Quem sou eu

Sou jornalista. Trabalhei nos grandes jornais da Imprensa pernambucana e atuo como assessora de Imprensa.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Contos

A fúria da jornalista sem o furo I
Talvez não chamasse a atenção se ele não fosse tão belo, não dançasse tão bem e não tivesse aqueles olhos como dois faróis de milha. Era uma noite caliente na danceteria mais freqüentada do reino de Askaban, quando me deparei com aquele “anjo”. Com certeza, o ator americano Richard Gere no filme Dança Comigo não foi mais sex e maravilhoso na fita como aquele homem que estava diante de mim.
Uma mulher quando acha um exemplar desse fica louca. É manchete de jornal. Parece até que o tempo para enquanto a vida passa.  E, pensando naquilo tudo, resolvi me aproximar e fazer um link. Ele, claro, correspondeu. Dançamos a noite toda e não larguei mais esse parceiro para que uma outra mulher não se aproximasse dele como num pool de notícias. Era 1.80 de pura beleza...
Senti várias vezes a firmeza do seu “caráter” e o mel das suas palavras adoçando os meus ouvidos. Não dava mais para ser imparcial diante dele e resolvi fotografar a cena. Parecia que ele era um homem culto. Falava bem. Mais tarde tirei essa dúvida quando disse que era advogado criminalista. A noite parecia uma criança banhada com whisky Johnnie Walker Black.
Fiquei empolgada e tentei um “furo exclusivo”. Porém, para a minha surpresa, a fonte fechou o canal alegando que ia elaborar uma petição, pois o prazo para apresentar a contestação expirava na manhã seguinte. Trocamos e-mail e ficamos de conversar pelo MSN. Recebi um beijo sensual que parecia mais cena de novela das 8, então lembrei dos encontros fatais entre Lázaro Ramos e Camila Pitanga, em Insensato Coração.
O que mais me angustiava eram os desencontros na hora de fechar a pauta. Ele sempre dava uma desculpa e inviabilizava o “furo exclusivo” desejado ardorosamente desde o primeiro encontro. Algo estava errado, mas eu não sabia o que era. O meu faro jornalístico estava comprometido porque eu era uma mulher apaixonada. 
A princípio imaginei editá-lo como casado. Mesmo com essa desconfiança, meu banco de dados não apontava esse risco. Continuei tentando descobrir o que estava acontecendo e não gostava nem de imaginar que ele seria adepto das “coletivas de Imprensa”, quando recebi um convite para jantar no Bargaço, em Boa Viagem. Ele avisou que havia feito a reserva de um vestido na Vert et Rouge, nos Aflitos, e contratado a equipe do Dia da Noiva, em Edelson Cabeleireiro, para que eu ficasse deslumbrante nessa ocasião especial. Fiquei surpresa e curiosa com tanto jabá imaginando que seria o dia do “furo exclusivo”. 
Durante o jantar, que foi glamoroso, ficamos noivos selando o romance com um anel de brilhantes da H. Stern. No final do evento, ele me convidou para ir ao cinema assistir no Shopping Plaza ao pré-lançamento do filme Cisne Negro, com Natalie Potman, que vive uma bailarina mentalmente frágil. Entre uma cena e outra, pensei que eu terminaria a noite frente a frente com o “Oscar”. Para minha decepção, ao término do filme, ele recebeu uma ligação de um cliente em apuros, que estava na DP prestando depoimento sob a acusação de haver ingerido bebida alcoólica ao volante. Mais uma vez o “exclusivo” nem começou...
Nesse período de namoro, o meu editor continuava me cantando e queria destacar meus dotes em “capa de revista” com todos os flashes em cima. Na redação, cruzando informações com meus amigos sobre o gancho do ”furo exclusivo”, um deles, conhecido como “paparazzi”, alertou sobre a virilidade do meu noivo. Logo imaginei que isso era “barriga” dele, pois o mesmo paparazzi sempre insistia em ter uma “exclusiva” comigo.
Marcamos o dia do casamento. Convidei meu editor para ser o padrinho. Meu noivo teve a iniciativa de agendar um jantar em sua residência, na Avenida Boa Viagem, para que os nossos padrinhos se conhecessem.  Fiquei deslumbrada quando cheguei em sua casa. O apartamento, decorado por Romildo Alves, exalava o aroma das rosas vermelhas. A mesa estava impecável e o buffet  de Celinha, incomparável.  
Recebemos os nossos convidados e editamos a festa ao som de violinos. O fechamento desse dia não teve deadline. Dançamos, comemos e bebemos a noite toda. Foi o acontecimento. Quando já estava amanhecendo, meu noivo se dispôs a me levar em casa, pois eu não estava de carro. Para minha surpresa, o editor pediu carona. Então meu noivo me deixou em casa primeiro e depois foi levar o editor, mesmo ele morando mais próximo. Com isso, mais uma vez não dei o “furo”.
Dias depois, ao me encontrar com o “paparazzi”, ele mostrou uma foto que retratava uma estranha intimidade entre o meu noivo e o editor, no Baile dos Artistas, sem que eu soubesse desse encontro. Como chequei na edição de fotografia do jornal que não se tratava de uma montagem, comecei a dar credibilidade ao “paparazzi”. Fiquei sem saber que espaço essa foto ia ocupar na minha página, mas que pelo visto seriam mais de quatro colunas.
Incontinente, procurei o meu noivo em seu escritório, na Ilha do Leite, buscando uma explicação para aquela cena, que imediatamente também provocou um interesse visual em sua secretária, pelo plano de enquadramento dos dois objetos perfuro contundentes em pauta, e foi motivo de risos. Entendi a postura da moça porque sei que essa cultura de curiosidade não é privilégio apenas dos jornalistas. Transtornada e humilhada com o fato retratado, solicitei a secretária que abrisse a agenda, em caráter de urgência, para um esclarecimento. Ela se desculpou e disse que era impossível, pois ele estava em reunião.
Num passe de mágica, abri a porta do escritório e, para minha surpresa, encontrei o meu editor (agora ex) sentado no colo do meu noivo. Perdi o furo e a exclusividade. Ainda procurei orientação jurídica para saber qual o caminho que eu deveria trilhar. O advogado disse que eu poderia ingressar com uma ação cível, objetivando danos morais ou entrar com uma notícia criminal na polícia, por estelionato, em razão de ter sido induzida em erro, havendo o editor levado vantagem em prejuízo alheio.
Para não me expor, resolvi fechar a edição dessa página sem mais esclarecimentos.
Hoje, os dois vivem juntos. Viajam pelo reino de Askaban colhendo assinaturas para obter  apoio popular, visando a legalização do casamento de pessoas do mesmo sexo.  Inclusive, já assinei a lista. Continuo só, somente só, e sem o furo...

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